‘Professor do futuro será um
designer de currículo’
Entre suas habilidades estão
dominar tecnologia, desenvolver currículos mais integrados e ensinar alunos a
aprender a aprender
por Vagner de Alencar 19 de abril de 2013
O termo é desconhecido no Brasil,
mas é bom você já ir se familiarizando com ele. O professor tradicional – esse
com o qual estudamos anos e que conhecemos hoje – vem gradativamente se
transformando no que em algumas escolas por aqui, mas mais intensamente nos
Estados Unidos, chamam de designer de currículo. A principal função desse
“novo” profissional está a de desenvolver currículos e projetos
interdisciplinares, integrando às novas tecnologias. “O professor designer de
currículo é a expressão maior e mais completa do mestre contemporâneo. Vai além
de ministrar o conteúdo estrito senso, mas é também responsável por preparar o
educando para o hábito de aprender a aprender, desenvolvendo habilidades de aprendizagem
que são consideradas imprescindíveis aos profissionais e cidadãos em um mundo
centrado na inovação”, afirma Ronaldo Mota, ex-secretário Nacional de
Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação e atualmente professor visitante do Instituto de Educação da
Universidade de Londres.
Esses profissionais tanto podem
se dedicar exclusivamente ao design de currículo quanto podem ser professores
que intercalam essa função com sua prática de sala de aula. De acordo com Mota,
eles poderão, por exemplo, criar portais interativos para abrigar suas
videoaulas e outros recursos multimídia ou ainda estimular os estudantes para
que criem seus próprios blogs. Os portais poderão servir como ambientes
– além da sala de aula – para relação permanente entre o educador e os
educandos, bem como os educandos entre si.
O professor tradicional
gradativamente se transformará no designer educacional
Mota, que também foi Secretário
Nacional de Educação Superior, aponta como outra nova demanda desses designers
de currículo a criação de Moocs (Massive
Open On-line Course, cursos on-line gratuitos e em grande escala) . “Isso vai
ser uma enorme revolução, uma vez que o professor tradicional gradativamente se
transformará no designer educacional, que vai precisar dominar a tecnologia
para produzir essas aulas”, afirma.
Mas nem tudo é tecnologia. Em
escolas onde o modelo vigente inclui aprendizado baseado por projeto, por
exemplo, esse profissional cria aulas que envolvem ações transdisciplinares. Na
norte-americana High
Tech High, que desenvolve esse modelo de ensino, os docentes se reúnem
diariamente para discutir como um determinado conteúdo pode se tornar um
projeto que envolva a sua disciplina e as dos demais docentes. Um dos pilares
da instituição é exatamente ter o professor como um designer, função que
empodera o educador e lhe dá a responsabilidade de ser o guia de sua classe.
Na instituição, as aulas são
estruturadas em blocos mais longos – ao contrário dos tradicionais tempos de 50
minutos – com o intuito de integrar o currículo, unificando as matérias e
facilitando o aprendizado dos estudantes. Física e matemática são ensinadas
juntas, assim como história, filosofia e língua inglesa são aglomeradas em
única disciplina: humanidades. “Acreditamos na integração do currículo. Em vez
de ir a uma aula de história e uma de inglês, o aluno tem um professor de
humanidades. A escola tem um time de professores trabalhando para criar
projetos juntos. Existe um aluno que aprende colaborativamente, com tutores
virtuais, sozinhos, com material impresso ou não. Nós damos a ele a
oportunidade de estudar em cada uma dessas modalidades, de acordo com o que
cada um precisa”, afirmou Melissa Agudelo durante o Transformar 2013.
Assim como na High Tech High, a
rede Summit
Public Schools – grupo de escolas californianas que está ajudando
jovens de famílias pobres a ingressar na universidade – usa momentos
sistemáticos de encontros entre docentes para fazer o design de seu currículo.
Nas escolas, os professores desenvolvem projetos de aprendizado
interdisciplinares, que normalmente associam as disciplinas curriculares ao
cotidiano dos estudantes, para que façam sentido ao que estão aprendendo, com o
objetivo de fazê-los pensar criticamente, além de desenvolver suas habilidades
cognitivas.
A rede também está construindo
sua própria plataforma de aprendizado on-line e são os professores os
responsáveis por inserir conteúdos nesse ambiente virtual. A partir do próximo
semestre, as escolas Summit vão adotar o modelo de blended
learning – conhecido também como ensino híbrido – o que irá
ajudar os designers de currículo a trabalharem mais integradamente, já que
precisarão se elaborar juntos os conteúdos baseados tanto em ferramentas
on-line quanto em momentos presenciais.
O futuro da aprendizagem é o
nosso futuro. O verdadeiro desafio de quem está desenhando um processo de
aprendizado é preparar os alunos para um mundo que não podemos ainda imaginar
como vai ser
Esses encontros também acontecem,
semanalmente, na Quest
to Learn – escola pública de NY onde os conteúdos são todos
trabalhados por meio de games. Em vez de reuniões entre professores e
professores, outros profissionais – como coordenadores pedagógicos e designers
de games também – se juntam para a criação do currículo escolar, que é
integrado e repensado para levar experiências que estejam associadas ao mundo
real.
Para Brian Waniewski, diretor de
gestão do Institute of Play que
aplica a metodologia na escola, esses professores são os responsáveis por
redesenhar a experiência do aprendizado. “O futuro da aprendizagem é o nosso
futuro. O verdadeiro desafio de quem está desenhando um processo de aprendizado
é preparar os alunos para um mundo que não podemos ainda imaginar como vai
ser”, afirmou Waniewski em entrevista ao Porvir.
Segundo o professor brasileiro
Mota, os designers de currículo surgirão naturalmente, aprendendo de forma
involuntária, na prática. “Ainda é uma incógnita saber se as universidades
estarão preparadas para formá-los. Desburocratizar o currículo nacional seria
fundamental para que esses profissionais conseguissem remodelar seus planos de
aula, além de criar programas e disciplinas mais dinâmicas, tornando-os também
mais empoderados”, afirma.
Fonte:http://porvir.org/professor-futuro-sera-um-designer-de-curriculo/?utm_campaign=shareaholic&utm_medium=linkedin&utm_source=socialnetwork
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